ROBERT KURZ, sociólogo e ensaísta alemão, escreveu a mateira: Tempo Livre para o jornal Folha, com tradução de José Marcos Macedo.
Resumo da materia:
Esse problema, embora não seja novo, alcançou no final do século 20 uma nova dimensão. Tempo, como se sabe, é dinheiro, eis por que o tempo sempre cumpriu um papel decisivo no capitalismo. Mas hoje a exploração dos recursos temporais parece ter chegado a seu limite histórico, sendo impossível evitar que o problema do tempo, agora iminente, se insinue na consciência social.
A reflexão filosófica decisiva sobre o conceito moderno de tempo, valida ate hoje vem de Immanuel Kant (1724-1804). Kant descobriu que o espaço e o tempo não são conceitos que se referem ao conteúdo do pensamento humano, mas as formas a priori de nossa capacidade de perceber e pensar. Tempo para ele, é a temporalidade pura e simples, sem nenhuma dimensão especifica, sendo o espaço e o tempo formas puras da intuição.” Tempos diversos são apenas partes do mesmo tempo”.
A pesquisa histórica e cultural descobriu que essa definição a-histórica da experiência e da percepção do tempo não é sustentável. Pesquisas recentes mostram que em culturas diferentes, entre elas as não afetadas pelo capitalismo , existem formas inteiramente diversas de tempo que transcorrem paralelamente e cuja aplicação varia de acordo com o objeto ou a esfera de vida que se reporta a percepção temporal.” Cada coisa tem seu próprio tempo”.
A revolução capitalista consistiu no surgimento do tempo-espaço-capitalista, sem alma e sem feição cultural, que começou a corroer o corpo da sociedade. Ficaram separados os tempos: trabalho e moradia, trabalho e vida pessoal, trabalho e cultura etc.
Só assim foi possível nascer a separação moderna entre horário de trabalho e tempo livre.
Embora não se perceba implicitamente o tempo de trabalho é tempo sem liberdade, um tempo impingido ao indivíduo em proveito de um fim que lhe é estranho, determinado pela ditadura das unidades temporais abstratas e uniformes da produção capitalista.
Tempo morto e vazio:
Apesar de consumir a maior parte do tempo diário, a maioria dos trabalhadores não sente o tempo de trabalho como tempo de vida próprio, mas como tempo morto e vazio, arrebatado a vida como um pesadelo.
Já do ponto de vista do espaço e do tempo capitalista, inversamente, o tempo livre dos trabalhadores é tempo vazio de nenhuma serventia.
No mundo moderno sacrificamos muito mais tempo livre a produção do que nas sociedades agrárias pré-modernas, a despeito do gigantesco desenvolvimento das forças produtivas. Na antigüidade e na Idade Média, apesar do nível técnico inferior, o tempo de produção diária, semanal ou anual era bem menor do que no capitalismo. A religião tinha primazia sobre a economia, o tempo de festas e dos rituais religiosos era mais importante do que o tempo de produção. A história da disciplina capitalista é também a historia da luta encarniçada contra essa Segunda-feira livre, que só aos poucos foi eliminada com punições, sendo ainda encontrada em algumas regiões em pleno século XX (ex. Cabeleireiros, Padarias).
A diferença de qualidade entre tempo de produção capitalista e pré-moderno é evidente.
O setor agrário redundou em muitos constrangimentos(por exemplo, tradições restritas e laços de consangüinidade) e problemas de abastecimento( por exemplo, colheitas arruinadas). Mas sempre teve como objetivo o prazer e o ócio (não confundir com tempo livre moderno). Isso porque o ócio não era uma parcela da vida separada do processo de atividade remunerada, e sim presente na própria atividade produtiva. (Ex. Numa jornada de 12 horas de trabalho, haviam pausas para almoço que se estendiam até o sol enfraquecer).
Hoje já não conhecemos mais esse modo de agir, nossa jornada de trabalho é mais condensada, pela cadencia mecânica e pelo modo requintado de exaurir a energia vital com auxílio da chamada racionalização.
O engenheiro norte-americano Frederick Taylor (1856-1915) desenvolveu no começo do século XX a ciência do trabalho, aplicada em larga escala nas fábricas de automóveis Henry Ford.
Um jovem neurótico
Taylor era um neurótico que, quando jovem, contava compulsivamente seus passos.
E Wilhelm Ostwald (1853-1932), de certa maneira fundamentou filosoficamente a práxis de Taylor e Ford com um imperativo energético. Dizem: “Não desperdice energia, utilize-a”.
O filósofo Paul Virillio definiu: Arrebatados pela força monstruosa da velocidade, não vamos a lugar algum, contentamo-nos com a tarefa de vier em benefício do vazio da velocidade.
Segundo Jean Fourastié ou Daniel Bell, o tempo livre terias uma expansão contínua.
Mas com a transformação do tempo livre num consumo de mercadorias de crescimento constante, o vazio da aceleração foi capaz de tomar posse do que restava da vida.
Desemprego:
Desemprego no capitalismo não é tempo livre e sim de escassez.
Somente a absorção do trabalho e do tempo livre numa cultura abrangente, sem concorrência, fazem parte do caminho para o ócio, com a libertação da forma de tempo capitalista.
quarta-feira, dezembro 09, 2009
TEMPO LIVRE:
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